quarta-feira, 15 de julho de 2009

Limitando-se


Ao abrir a janela e me deparar com o muro branco, recolhi-me. Todos os dias eram assim, a janela do meu quarto dava para esse muro. Mas hoje, de forma particular, essa limitação me irritou. A mesmice da rotina, a redundância dos dias que são exatemente iguais. O calor que não me esquenta, o frio que não me resfria. O som que não me anima, a visão que se limita... E na tentativa (vã) de procurar pequenas felicidades, vou encontrando grandes fantasias frustradas dentro de mim.
O sol estava no céu pela manhã, costumeiro aos dias de inverno, brilhante e sem calor. O seu brilho tão intenso apenas, não fora capaz de esquentar a frieza dos meus sentimentos.

Sentada diante do caderno de trecos, as palavras pareciam esconder em minha imaginação, como se recusassem a transcrever minhas lamúrias inflamadas...

Como que fincadas pela minha insistência, as palavras pareciam tortas na folha, como se quisessem sair pulando pra qualquer outra história, que tivesse pelo menos a ânsia de o final sair feliz... mas perderam a luta, e ficaram por aqui sem saber qual será por fim, o fim.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Poetisa em Pessoa


Queria mostrar que era forte, claro, afinal quem gosta de parecer fraco? Revestida da minha armadura oculta contei-lhe das batalhas travadas, esqueci de dizer que estavam travadas como uma peça que emperra. Contei de amores nunca vindos, de dores nunca passadas, de lutas nunca vencidas.

Contei-lhe em detalhes imaginários meus sonhos que para ele foram reais, intensifiquei a voz, bati o pé, e no final acreditei em mim.

E então, quando o assunto terminou, o que era pra me fazer parecer forte por já ter passado por tantos entretantos... fiquei com pena de mim e nos despedimos com uma única certeza: "essa aí vai ser poetisa, daquela já descrita por Pessoa, 'finge tão completamente que chega fingir que é dor, a dor que deveras sente'."

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sonhos

Nem precisei contar carneirinhos, tão logo encostei minha cabeça ao travesseiro adormeci. O sono veio com pressa, não tive tempo de retirar as meias que me incomodam tanto. Atingi o estágio REM ("Rapid Eye Movements") rapidamente, e o sonho quase transpassou minhas pupilas querendo chegar ao meu consciente:

O sonho

"O espaço era pequeno, mas dava para dois, parecia grande quando a saudade era minha única companhia.
A cada segundo que se despedia, era um despertar de ânsia para sua chegada, e aos poucos a saudade foi cedendo lugar para a ansiedade que disritmava meu coração.
Escolhi a roupa, afinal era para sair ao seu encontro para um momento importante e único. Eu de vestido rodado cor-de-rosa, sapatos de couro sintético da mesma cor, encontrei-me com você, que vestia um casaco preto sobre uma camisa branca, as calças sociais pretas confundiam com os sapatos. Nosso encontro foi num silêncio que gritava em nossas almas, gritava uma alegria infinita, um amor intenso, uma vontade mútua. Nossas mãos uniram-se como um enlace eterno, e saímos abraçados, com os corações pulsando no mesmo ritmo, no mesmo tom, na mesma sintonia da música que fora especialmente composta pra nossa felicidade sem fim."