quinta-feira, 11 de novembro de 2010


"Pra peito devoluto, devolvo coração!"

(E se sobrava espaço é porque faltava-lhe atenção)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Longe é um lugar...


Ao entrar na Biblioteca, terminadas as provas, caminhei entre as tantas fileiras de livros dispostas no amplo espaço. Pelas prateleiras, autores descansavam suas frases, suas poesias e histórias em um silêncio barulhando conhecimento. Caminhei tranqüila, observando as texturas disponíveis ao toque, deixando-me levar pelos títulos mais apaixonantes, mais confusos, mais complexos. Em certo momento, enquanto eu observava alguns clássicos da literatura, tive a impressão de estar olhando no espelho, espelho que era capaz de refletir tudo quanto adquiri de conhecimento nesses vinte e poucos anos que vivi. Sorri abanando a cabeça, como se eu quisesse que esse pensamento dispersasse, onde já se viu uma prateleira de livros transformar-se em espelho... Só mesmo em uma Biblioteca para isso acontecer; se eu ainda fosse Alice, bem que poderia imaginar esse lugar em um país, uma vez que maravilhoso já é um adjetivo que esse espaço possui.

Continuei a passos curtos e vagarosos minha caminhada entre as estantes. Apesar de estar caminhando lentamente, não havia parado para, delicadamente, colher alguma flor desses imensos canteiros de conhecimento. Mas foi neste momento que algo aconteceu. Um livro saltou da prateleira e caiu na minha cabeça. Livro sazonado, maçã de Newton.

Fruto maduro, cor de laranja e um pássaro na capa. Uma águia, simbólico, essa idéia mística de ressurgir das cinzas. Havia também um sol e em letras pretas o título “Longe é um lugar que não existe” – Richard Bach. Criatura e Criador. O título é conhecido por nós.

Coloquei de volta o pequeno livro na grande estante, mas ele tornou saltar, abrindo dessa vez suas folhas como se fossem asas e pousou sobre minhas mãos... Asas abertas e mensagem no bico “Cada presente de um amigo é um desejo por sua felicidade”.

No meio dessa peripécia do acaso, lembrei-me que jamais estivemos distantes. Afinal, te guardei comigo como se fosse livro-pássaro, asas abertas, carregando conhecimento, sentimento e tantos outros alimentos para fazer crescer forte e poder alçar vôo tudo isso de bonito que guardo no meu ninho.

“E no meio do Aqui e do Agora, não acha que podemos nos encontrar de vez em quando?” Sigo dizendo – ave do meu ninho – quando se está dentro da gente, “Longe é um lugar que não existe!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Diálogos mudos

- Sabia que encontraria você aqui.
- Nunca gostei de ser previsível...
- Não, você não é previsível, foi meu instinto que disse que eu a encontraria aqui.
- E o que te traz até mim?
- Vou embora, queria me despedir.
- Vai embora? Pra onde?
- Meu lugar não é aqui, você sabe.
- O que eu devo dizer?
- Esperei que você me pedisse pra ficar. Que o pedido da pulseira fosse esse: "Que ele fique"
- Mas eu não posso te impedir de ir.
- Você podia.
- E você ficaria?
- Por você sim. Enfim, estou indo
- Boa viagem. Quando volta?
- Não sei se volto.
- De certa forma você vai ficar, te guardei em mim...
- Deseje boa viagem ao teu eu que vou levar comigo.
- BOA VIAGEM!

Um abraço (...)

E ele segurou o nariz querendo segurar o choro. Ela, dentro do orgulho agora dilatado, fingia um sorriso enigmático; empurrar os lábios num sorriso era como rasgar um pedaço da alma, picotar e jogar no meio do furacão de sentimentos que trazia dentro si, que além de uma tempestade de lágrimas, possuía agora uma enorme vontade de ser sugada pra dentro daquilo que ela costuma chamar de "eu"...

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu, pronome possessivo, SUA


Eu, pronome possessivo, SUA

Pra satisfazer meu ego, pra minha satisfatoriedade,

Pros meus pensamentos, pras minhas verdades.

Teu rosto ao lado, tua mão em mim

Teus olhos sorrindo, tuas obras enfim...

Seu suor, sua sonoridade

Seus desejos, suas vontades.

Nosso meio, nossa querência

Nossos anseios, nossas freqüências

Vosso pedido, vossa alegria

Vossos suspiros, vossas euforias

Seus abraços, suas rimas para a lua

Seu encanto e eu, pronome possessivo, sua!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Imagem em ação I

Dentro daquele corpo, algo piscava. Não era possível ficar por muito tempo apagado ou aceso, e o piscar incessante era a forma que conseguira para pode saciar a ansiedade que vinha de algo que jamais fora conseguido ser canalizado. Ela podia ter o dom para a pintura e com o pincel extravasar a ansiedade, podia ser atleta, correr e gastar toda a energia acumulada, socar um saco de areia com luvas de boxe, mas não, definitivamente não tinha habilidade para qualquer uma dessas coisas. Ela gostava mesmo era de imaginar, seu dom era esse, e ninguém, absolutamente ninguém supunha que atrás daquela figura que parecia ser a mais transparente do mundo, na verdade possuía um poço sem fundo de imaginações.
E para começar, bastava existir. Sabia argumentar sobre toda e qualquer teoria, era capaz de explicar com prática o porquê de certos acontecimentos, e a prática era adquirida por seu constante exercício de imaginar. Imaginava que a resposta para todos os questionamentos estavam, na verdade, dentro de cada um, mas era contra a idéia de dizerem que elas ficavam armazenadas no coração, para ela, o fígado, pâncreas e rins também eram bons guardadores de respostas. Ora, quem nunca depois de um copo, dois, ou vá lá, três copos de cerveja não tenha bloqueado sua razão e liberou do fígado aquela resposta que há anos buscava incessantemente? Uma boa pedra no rim também era capaz de fazer alguém no ápice da dor, atingir o metafísico e resgatar o perdido das idéias.
Vivia num universo paralelo e com isso habitava dois espaços sendo apenas uma, sem interferir na lei da física que propõe que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço porque o ela fazia era exatamente o contrário...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Das estrelas


No chão do meu quarto vejo estrelas. De repente, nessa filosofia do espelho resolveram mudar de lugar e agora habitam o chão, que eu deitada de cabeça rente ao assoalho, imagino ser o infinito do céu.
Do chão do meu quarto vejo flores na parede e um girassol na janela. E quando fico com os pé rentes ao assoalho e danço no ritmo da minha melodia interior, vejo girar na minha imaginação as cores que compõem meu espaço.
Em cima da minha cabeça a luz, a idéia, a lâmpada... O metafísico!
No chão do meu quarto vejo estrelas, e eu sei, elas também me vêem...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SEU NOME



No começo era o verbo
Que desencadeou um’ação.
Do sorriso veio o plural
Da singularidade, a admiração.

No começa era a idéia
Que desencadeou em poesia
De um fato veio a vontade
Do que há tempos já se queria

E a mão antes fria e solitária
Não sabia como se portar
Mas comportou-se direitinho
No verbo segurar.

Das rimas pobres, do poema sem forma.
Surgiu assim o pronome
Que pela possessividade da minha autoria
Sabiamente leva seu nome.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Das paráfrases de Caio F.

"Nunca esperei que um dia, numa tarde qualquer, você podia sair de dentro de mim só para dizer me olhando: Eu gosto de você. Quando eu queria sair de Minas e não sabia como... Como se eu fosse uma estrela caindo do céu, perto do longe. Então eu imaginava você vindo, era como eu te imaginava..."

sexta-feira, 26 de março de 2010

A gaveta I

Uberaba, 26 de março de 2010
Houve um tempo em que eu me perguntava qual a direção é o "seguir em frente". Nesse tempo, remoto, perdi as contas de quantas bussolas imaginárias me apontavam o Norte, quando na verdade eu queria seguir para o Oeste.
Hoje, as bussolas não existem mais, perdi o norte, o sul, leste e oeste. Hoje amanhã de ontem. Ontem de amanhã.
E por falar em perder, não vejo verbo mais encontrado que esse. Caso ninguém precisasse encontrar, jamais tomariam como perda. Perder é senão, encontrar, antes de tudo a perda.
Para quem não sabe para onde seguir, qualquer lugar serve, e de que adiantariam as bussolas? Pequenos objetos que insistem em mostrar uma direção. Há os Romanticos que proferem "Você é a minha direção" - vai seguindo, vai... o buraco aponta pra baixo, não é mesmo?
Pequenos trechos absortos em resoluções almaticas que jamais sairiam da gaveta, não fosse o trilho direcionar pra fora e abri-la de trecos e recortes e papéis amassados e...
Se não quisesse ser lido, que se autodestruisse no rasgar-se ao centro, depois ao meio, ao lado, até que uma única folha, fosse transformada em minúsculas partículas de um mero papel rascunho. Não. preferiu se perder na ânsia de ser encontrado, talvez por alguém que buscasse um rumo, um sinal.
O tempo tomou conta de poetizar o que antes fazia doer. A gaveta possuía um cadeado, cuja a chave jamais saiu de seu alcance. Na vã esperança que alguém abrisse a gaveta, que por quem esperava, jamais fora aberta.
Na nuance emblemática das traças que jamais ousaram destruir o que havia escrito, enxergava-se uma postura hierárquica. Dali, só se alimentariam supremos, que lendo a riqueza de contrastes e confissões, sairiam saciados e extasiados.
Dali, um rumo, daqui, uma direção. A folha manchada pela tinta da caneta, a bussola. E nesse tempo, ninguém mais seria questionado sobre "seguir em frente", uma vez que a partir dali, o seguir era inevitávelmente a direção.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Até quando?

Fico impressionada com a atitude solidária da humanidade diante da catástrofe no Haiti. São tantos aviões que todos os dias chegam por lá com alimentos, água, roupas e etcetera. E isso me entristece. A morte por um terremoto é acidente, um lamentável acidente, imprevisível, inculpável.
Não é de hoje que as mães haitianas misturam o barro com mateiga, dão a forma de um biscoito, deixam secar e saciam suas proles. A terra começou a tremer sob os pés deles há muito tempo.
Quantos deslizamentos, soterramentos, terremotos, tsunamis, furacões, tufões e afins serão precisos para abrir nossos olhos?
A mídia não mostra o vizinho que morre de fome, não mostra a senhora idosa que não tem remédios, não passa na tv a falta de saneamento básico no nosso bairro ou a falta de estrutura na escola de educação básica dos nossos filhos. E então? Devemos tapar nossos olhos e enxergar o que passa na tv?
Desculpe-me a sinceridade, mas embora a rede midiática seja tão sensacionalista, a coisa está mais tensa do que estamos vendo.
Está tudo a nossa frente, mas há uma linha tênue entre o que podemos ver, e o que conseguimos enxergar. E a natureza começa a mostrar.
É preciso uma tsunami pra nos despertar.
Um furacão pra nos fazer correr.
Isso me entristece...
Me entristece o fato de ter precisado um terremoto para abrir nossos olhos, me entristece a morte de alguns, para evitar a morte de tantos outros.
Até quando será preciso um terremoto pra nos chacoalhar e nos tirar do transesocialegoísta que vivemos?
Que fique bem claro, o que me entristece não é a instabilidade tectônica causadora dos terremotos, ou qualquer outra defesa natural do planeta, mas a calmaria insensata, sórdida e previsível disso que (nos) intitulamos humanidade.