Uberaba, 26 de março de 2010
Houve um tempo em que eu me perguntava qual a direção é o "seguir em frente". Nesse tempo, remoto, perdi as contas de quantas bussolas imaginárias me apontavam o Norte, quando na verdade eu queria seguir para o Oeste.
Hoje, as bussolas não existem mais, perdi o norte, o sul, leste e oeste. Hoje amanhã de ontem. Ontem de amanhã.
E por falar em perder, não vejo verbo mais encontrado que esse. Caso ninguém precisasse encontrar, jamais tomariam como perda. Perder é senão, encontrar, antes de tudo a perda.
Para quem não sabe para onde seguir, qualquer lugar serve, e de que adiantariam as bussolas? Pequenos objetos que insistem em mostrar uma direção. Há os Romanticos que proferem "Você é a minha direção" - vai seguindo, vai... o buraco aponta pra baixo, não é mesmo?
Pequenos trechos absortos em resoluções almaticas que jamais sairiam da gaveta, não fosse o trilho direcionar pra fora e abri-la de trecos e recortes e papéis amassados e...
Se não quisesse ser lido, que se autodestruisse no rasgar-se ao centro, depois ao meio, ao lado, até que uma única folha, fosse transformada em minúsculas partículas de um mero papel rascunho. Não. preferiu se perder na ânsia de ser encontrado, talvez por alguém que buscasse um rumo, um sinal.
O tempo tomou conta de poetizar o que antes fazia doer. A gaveta possuía um cadeado, cuja a chave jamais saiu de seu alcance. Na vã esperança que alguém abrisse a gaveta, que por quem esperava, jamais fora aberta.
Na nuance emblemática das traças que jamais ousaram destruir o que havia escrito, enxergava-se uma postura hierárquica. Dali, só se alimentariam supremos, que lendo a riqueza de contrastes e confissões, sairiam saciados e extasiados.
Dali, um rumo, daqui, uma direção. A folha manchada pela tinta da caneta, a bussola. E nesse tempo, ninguém mais seria questionado sobre "seguir em frente", uma vez que a partir dali, o seguir era inevitávelmente a direção.