Fico impressionada com a atitude solidária da humanidade diante da catástrofe no Haiti. São tantos aviões que todos os dias chegam por lá com alimentos, água, roupas e etcetera. E isso me entristece. A morte por um terremoto é acidente, um lamentável acidente, imprevisível, inculpável.
Não é de hoje que as mães haitianas misturam o barro com mateiga, dão a forma de um biscoito, deixam secar e saciam suas proles. A terra começou a tremer sob os pés deles há muito tempo.
Quantos deslizamentos, soterramentos, terremotos, tsunamis, furacões, tufões e afins serão precisos para abrir nossos olhos?
A mídia não mostra o vizinho que morre de fome, não mostra a senhora idosa que não tem remédios, não passa na tv a falta de saneamento básico no nosso bairro ou a falta de estrutura na escola de educação básica dos nossos filhos. E então? Devemos tapar nossos olhos e enxergar o que passa na tv?
Desculpe-me a sinceridade, mas embora a rede midiática seja tão sensacionalista, a coisa está mais tensa do que estamos vendo.
Está tudo a nossa frente, mas há uma linha tênue entre o que podemos ver, e o que conseguimos enxergar. E a natureza começa a mostrar.
É preciso uma tsunami pra nos despertar.
Um furacão pra nos fazer correr.
Isso me entristece...
Me entristece o fato de ter precisado um terremoto para abrir nossos olhos, me entristece a morte de alguns, para evitar a morte de tantos outros.
Até quando será preciso um terremoto pra nos chacoalhar e nos tirar do transesocialegoísta que vivemos?
Que fique bem claro, o que me entristece não é a instabilidade tectônica causadora dos terremotos, ou qualquer outra defesa natural do planeta, mas a calmaria insensata, sórdida e previsível disso que (nos) intitulamos humanidade.