quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Danse de vent


Madrugadinha fria, deixei o edredon de lado, quis sentir o frio penetrar minha pele, na tentativa de me certificar que eu estava mesmo viva. E estava.Meus olhos abriram com o nascer do sol, levantei-me... Do guarda-roupas retirei um vestido curto, vesti e fui pra sacada. O frio tomou meu corpo... arrepiei, inteira e intensa. Os pés descalços, a alça do vestido, as pernas nuas, cruas e nuas... O vento se apossando de mim. Meus cabelos envoltos numa fita imaginária, uma fita colorida que prendia na nuca. O meu som interior cantava... A fita do cabelo, ouvindo a sinfonia desprendeu-se para bailar na companhia do vento, esse mesmo que a levava cada vez mais alto. Os cabelos agora presos apenas na cabeça imploravam pela mesma liberdade da fita. Sacudiam, agitavam... sossegavam.A música dentro de mim começou a tocar mais forte, mais alto, mais imensa, mais intensa... O vento agarrou-se na minha cintura e me tirou para dançar. Dançamos a dança do íntimo, a valsa do sorriso, o bolero de manhã's. Eu estava exausta, mas ele insistia em dançar comigo, me rodopiava como se estivessemos num salão, me deixava cair sobre seus braços fortes de ventania. Me elevava, me conduzia. Um perfeito padedeux. Impulsionei-me num 'demi-plié' e saltamos num 'Sissone' perfeito. Permanecemos no ar, segundos eternos. E depois com toda a força do braços de um bailarino experiente, um legitimo 'Danseur Noble' o Vento pegou-me pela cintura e deitou-me no chão... E foi ventar prá lá. Acordei do que eu pensei tivesse sido um sonho. Levantei-me do chão em 'Demi-pointe' quando avistei no alto da mangueira a fita imaginária colorida ainda exausta como eu da 'Danse' de outrora!

domingo, 1 de novembro de 2009

Solilóquio


- Sabe o que acontece quando se coloca uma esponja na água?
- Bem, a esponja absorve a água.
- E se apertar a esponha?
- Certamente a água vai escorrer. Mas por que isso agora?
- Porque agora eu sei.
- Sabe o quê?
- Aquela noite, lembra?
- Quase todas me lembro... Quantas noites você já viveu...
- Digo aquela, de choro incessante.
- Incessante e convulsivo?
- Essa!
- E o que tem?
- Lembra o por que do choro?
- Mas se nem você sabe o por quê...
- Agora sei!
- Sabe?
- A esponja...
- Como assim a esponja?
- O coração aquela noite. O coração estava sendo apertado.
- E doía?
- Muito.
- E por isso chorava...
- Não!
- Não?
- Quando se aperta o coração, o sumo sai pelos olhos...
- E viram lágrimas...
- Isso!
- Ah! Agora eu também sei...